Pesquisador da UnB encontra animais em nascentes do
Parque Nacional de Brasília, perto da área urbana
Ilustração Marcelo Jatobá/UnB Agência |
A biodiversidade do cerrado brindou os pesquisadores com mais uma surpresa. Bem perto de uma área urbana densamente povoada, no Parque Nacional de Brasília, existem 12 espécies de peixes novas para a ciência.
Os animais habitam os córregos das bacias do Bananal e de Santa Maria/Torto, desde as nascentes até partes mais próximas do lago Paranoá, onde esses cursos deságuam. A descoberta foi feita pelo biólogo Pedro De Podestà Uchôa de Aquino, durante um ano de trabalho na região.
Segundo o pesquisador, só foi possível encontrá-los porque o local está protegido da ação humana. “Essa é uma característica de ambientes bastante preservados. Mostra que o Parque está cumprindo sua função.”
Tão surpreendente quanto registrar os indivíduos foi verificar que eles são encontrados com grande freqüência nesse ecossistema. As novas espécies catalogadas respondem por 42,9% das 28 que habitam no local.
Com o levantamento, começa-se a se preencher uma lacuna de conhecimento sobre peixes em riachos no DF. São bem poucos os estudos na área, apesar do potencial da região. Nas proximidades afloram três grandes bacias hidrográficas do País, o que leva a crer que o número de animais sem descrição científica seja bem maior.
COLETA – Para chegar a esses exemplares, Aquino escolheu 14 pontos, divididos igualmente entre a sub-bacia do Bananal e a sub-bacia de Santa Maria/Torto. Cada um foi visitado em quatro ocasiões, sempre em diferentes épocas do ano (seca, chuva, transição da estiagem para chuvas e vice-versa).
Como o estudo requeria um levantamento dos animais presentes na região, o pesquisador e sua equipe colheram todos os indivíduos que conseguiram em cada trecho, numa extensão de 30 metros em cada curso d´água.
Tanto trabalho resultou na coleta de 8.614 peixes, a grande maioria indivíduos de pequeno porte, menores que 15 cm. Antes que o leitor se espante com o número, o biólogo trata de explicar que a quantidade é uma parcela pequena e que não interfere no ambiente.
CARACTERIZAÇÃO - Esse total foi analisado, chegando-se a identificação de 28 espécies, sendo 12 novas para a ciência. A quantidade de cada uma, entretanto, varia bastante. Cinco dominam o ranking, sendo a mais numerosa Knodus moenkhausii, com 5.558 indivíduos, ou 64,5 %.
Em seguida vêm, respectivamente, a Astyanax sp., com 965 exemplares, ou 11,2%; Hyphessobrycon balbus, com 955 exemplares, ou 11,1%; Hasemania sp., com 482 unidades, ou 5,6%, e Planaltina myersi, com 326 unidades, ou 3,8%. Enquanto isso, há quatro espécies que registram um único habitante, e mais quatro espécies que contaram apenas dois exemplares.
Os números são considerados excelentes, principalmente a julgar pela quantidade de espécies não nativas , também chamadas de exóticas, presentes no Parque. Por um capricho da natureza, alguns peixes vivem apenas nas nascentes, onde a mata de galeria, que abranda o calor do sol e deixa a água fresca, forma o ambiente ideal para peixes menores, de cerca de 2 cm. Outros preferem a porção dos córregos mais próximos à foz, em que o volume d´agua é maior e a disponibilidade de alimentos também.
Aquino considera fundamental manter esse tesouro vivo, principalmente em vista da pressão urbana em torno dos limites do Parque. “É interessante que tenhamos mais unidades de conservação para termos um ambiente íntegro e preservarmos essas espécies.”
Os resultados do estudo estão na dissertação de mestrado Distribuição da taxocenose íctica em córregos de cabeceira da bacia do Alto Rio Paraná, DF, defendida pelo Programa de Pós-Graduação em Ecologia no Instituto de Ciências Biológicas (IB) da UnB, em 2008. O trabalho foi orientado pela professora Claudia Padovesi Fonseca.
Fonte: SECOM-UnB
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